segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Cariri e Pajeú na Bienal 2007


Começando este blog com uma foto do sucesso que foi o estande Armazém Cultural Cariri e pajeú, na VI Binal internacional do livro de Pernambuco, realizada em outubro de 2007 no Centro de Convenções.

Estande este importante para muitos escritores e poetas que tiveram a oportunidade de lançar e relançar livros, contando com a participação de artistas, músicos e cordelistas se apresentando a todo momento e contando com a organização do escritor, poeta, prosador e amigo Joselito.

Esta aqui uma pequna homenagem e agrado do seus amigos com carinho...
Junior do Bode e Marinna

domingo, 24 de fevereiro de 2008

O MATUTO E O PADRE

O padre Rodas já tinha sido promovido a cônego, quando me batizou em 48.
Vigário de Monteiro, acumulava várias paróquias na região do Cariri Paraibano inclusive Prata e o Boi Velho.
Longe, muito longe dos costumes de hoje onde no interior, andam à paisana, em carros do ano, correm em vaquejada e até bebem cachaça, os padres daquela época, andavam de cavalo, jumento, caminhão e parece que já nasciam velhos.
Eu mesmo, depois de soldado, o bicho que mais me assombrava era o padre com aquele chapéu coco, aquelas meias bordôs e a batina sempre cheirando a uma mistura de suor e morcego.
O padre Rodas viveu naqueles Cariris casando, batizando gente e prometendo o fogo do inverno aos amancebados e portadores de outras anomalias morais de menor potencial ofensivo, inclusive a quem não assistisse a missa e nem se confessasse.
Antônio Bernardo, matuto presepeiro e tio de Chico de Dedês, do Boi Velho, num dia de feira depois da missa, chamou o padre Rodas num canto da igreja e com uma seriedade que não era sua lhe perguntou:
- Padre Rodas, uma pessoa, nunca tendo feito uma coisa e nem tendo vontade de fazer, é pecado? - De forma alguma Antônio!
E Antônio:
Pois padre, eu nunca me confessei e nem tenho a menor vontade!
O velho sacerdote fez que não ouviu e chamou o sacristão:- Ô fulano, vê se não esquece de apagar as velas do altar! Deu as costas e foi embora.

ZECA DE LURDES PRETA E O ENTERRO DE ZÉ VELHO

Motivados pelo intenso frio que assola a cidade de Monteiro , e que perdura por quase todo o ano, alguns do seus habitantes enveredam pela trilha sinuosa das garrafas não escolhendo nem lugar nem hora pra "tomar uma".
Carlinhos Batinga, grande conhecedor da história monteirense e de suas almas fala do bebinho "juriti".
-E o que é bebinho "juriti"?
-É aquele que começa a beber às cinco horas da manhã .
Prá quem não conhece, a jurití é uma pombinha menor do que a asa branca e povoava em bandos o sertão antes do desmatamento que destruiu os seus ninhos e tirou-lhe a caatinga, o seu habitat.
De carne muito macia eram caçadas impiedosamente em tocaias erguidas na margem de cacimbas , tanques e pequenas lagoas onde iam beber água sempre de madrugada, quem quisesse caçar a jurití tinha que estar na "espera", entre quatro e cinco horas da manhã fora desse horário era perda de tempo.
Zé Velho era um bebinho "juriti", considerado no pedaço e um dia inventou de morrer. Os bons companheiros, Biu Catita, Zé de Teófilo, Mário Barrão, Zeca de Lurdes Preta, Zé da Bucha e outros menos importantes, prontamente fizeram um mutirão para dar-lhe um enterro decente: primeiro saíram na rua, apelando para as almas caridosas. Com o apurado compraram cachaça, um caixão, algumas flores de plástico e até convidaram outro bebinho da vizinha Ouro Velho, chamado Xililique que ganhava a vida chorando nos velórios,. Queriam um enterro "de fé" para o finado. Xililique prometeu e lá não pisou o que foi considerado um desfeita pelos organizadores do evento.
Bom , o cortejo foi organizado e seguia da casa de Zé para o cemitério sem nenhuma alteração . Enterro de bebinho tem as suas peculiaridades, todos querem pegar na alça do caixão, para demonstrar solidariedade - é ponto de honra- porém é uma cerimônia tensa, com poucos participantes , geralmente vão os quatro que conduzem o esquife e mais dois ou três de reserva, todos eles administrando uma dúvida cruel:
"Agora foi ele, quem será o próximo"?
Vão contando os passos na ansiedade de jogar logo o companheiro na cova e se verem livres dele e da sua tenebrosa herança.
O grupo já se aproximava do Campo Santo, quando passando em frente à casa de Zeca de Lurdes preta, esta se encontrava na calçada que ficava bem acima do nível da rua. Lurdes tava lá não só por curiosidade, mas também para dar um esbregue no marido Zeca.
E deu:
-"Tais vendo aí nego safado, o que acontece com quem vive bebendo cachaça"?
-O próximo vai ser tu, tu vais ver, tu vais morrer e vais direto pro inferno!
Zeca, compenetrado e querendo respeito no ambiente, parou o cortejo, encarou a mulher com a maior moral da terra.
-É eu sei que vou morrer de cachaça, e sei que vou pro inferno, mas assim que eu chegar lá, sabe a "premera" coisa que eu vou fazer?
Sei lá, o que é?
Eu vou mandar o cão "vim" aqui pra comer o teu tabaco.
Os bebinhos, numa risada só soltaram o caixão no barro duro, a tampa caiu pra lá, o braço do defunto ficou pendurado pra fora.
O enterro de Zé Velho, "acanaiou"...