domingo, 24 de fevereiro de 2008

O MATUTO E O PADRE

O padre Rodas já tinha sido promovido a cônego, quando me batizou em 48.
Vigário de Monteiro, acumulava várias paróquias na região do Cariri Paraibano inclusive Prata e o Boi Velho.
Longe, muito longe dos costumes de hoje onde no interior, andam à paisana, em carros do ano, correm em vaquejada e até bebem cachaça, os padres daquela época, andavam de cavalo, jumento, caminhão e parece que já nasciam velhos.
Eu mesmo, depois de soldado, o bicho que mais me assombrava era o padre com aquele chapéu coco, aquelas meias bordôs e a batina sempre cheirando a uma mistura de suor e morcego.
O padre Rodas viveu naqueles Cariris casando, batizando gente e prometendo o fogo do inverno aos amancebados e portadores de outras anomalias morais de menor potencial ofensivo, inclusive a quem não assistisse a missa e nem se confessasse.
Antônio Bernardo, matuto presepeiro e tio de Chico de Dedês, do Boi Velho, num dia de feira depois da missa, chamou o padre Rodas num canto da igreja e com uma seriedade que não era sua lhe perguntou:
- Padre Rodas, uma pessoa, nunca tendo feito uma coisa e nem tendo vontade de fazer, é pecado? - De forma alguma Antônio!
E Antônio:
Pois padre, eu nunca me confessei e nem tenho a menor vontade!
O velho sacerdote fez que não ouviu e chamou o sacristão:- Ô fulano, vê se não esquece de apagar as velas do altar! Deu as costas e foi embora.

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